Passe social, passe polémico?
A partir de abril, as famílias que residem nos municípios da Área Metropolitana de Lisboa têm acesso a um passe social para circular dentro e entre municípios, fazendo uso de diferentes operadores de transporte.
A vantagem é clara: esta medida do atual governo representa um enorme alívio na carga financeira das famílias, sobretudo nas que residem em concelhos mais distantes do local onde os elementos do agregado familiar estudam ou trabalham. Até ao último dia do mês de março, e exemplificando com base no concelho de Mafra, quantos jovens deixaram de frequentar a faculdade devido ao elevado custo do passe para Lisboa? Quantas pessoas à procura de
emprego recusaram oportunidades na capital para empregos com remunerações baixas porque o valor do passe torna inviável essa hipótese? Quantas famílias cortam mensalmente noutros gastos, muitas vezes gastos essenciais como a alimentação, vestuário ou material escolar porque no final do mês têm uma despesa demasiado pesada com a aquisição dos passes? Em quantos casos “não compensa” utilizar transportes públicos porque, se duas pessoas partilharem a viagem, o passe torna-se mais caro do que o transporte particular?
A partir de 1 de abril, revoluciona-se o transporte público na Área Metropolitana de Lisboa. Não sabemos que problemas virão – podemos tão somente prever, mas o facto de prevermos problemas nunca pode implicar que não se procure melhorar efetivamente a vida das pessoas. Ouço, nas paragens de autocarro, alguns que afirmam preferir pagar o que atualmente pagam e continuar a usufruir dos transportes nas condições atuais. Têm medo, compreensivelmente, que o número de autocarros deixe de ser suficiente, que o tempo de espera aumente, que haja menos estacionamento para os que se deslocam para as paragens, que venham mais moradores para Mafra e se perca qualidade de vida, que… É um raciocínio egoísta, não é? “O meu bem-estar está sempre à frente do interesse da maioria” é uma forma de pensar que me ultrapassa.
Por mais polémica que esta medida possa ser, por mais eleitoralista que possa parecer, há um facto muito difícil de contrariar: esta é uma medida que honra a maior função da política – a de melhorar as condições de vida da população, no seu dia a dia, todos os dias, naquilo que verdadeiramente faz diferença. E só um governo socialista arriscaria uma revolução desta dimensão.